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De alfabetizadora de adultos, aos 11 anos, à executiva brasileira de destaque

Conheça a história da People Director da NTT DATA Business Solutions, Rosely Maximiano: "Me orgulho de nunca ter tido que escolher entre a minha profissão e a minha família, consegui equilibrar os pratos porque entenderam que nesta relação havia espaço para todos"

Provavelmente muitos jovens que compõem a geração Z desconhecem o que foi o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), um programa de alfabetização funcional e de educação continuada para adolescentes e adultos criado em 1967 durante a ditadura militar no Brasil. Mas, aqueles que hoje almejam trabalhar em uma das unidades de um dos principais players globais de TI do mundo, a NTT DATA Business Solutions, passam pelo crivo de alguém que, aos 11 anos, conheceu o movimento bem de perto. Rosely Maximiano, que atualmente ocupa o cargo de People Director na empresa, ingressou no então MOBRAL não para aprender, mas para ensinar.     

Apesar da pouca idade, a filha de uma costureira e de um técnico de laboratório, dava aula no período noturno na Colônia Wirmond, onde nasceu.

“Imagina você uma mãe alemã, um pai negro e o peso da sociedade racista para criar uma família. Tínhamos que dar certo e o caminho era o trabalho”, destaca.

A comunidade, chamada de Sanatório São Sebastião, fica na Lapa, município de aproximadamente 45 mil habitantes na Região Metropolitana de Curitiba (PR). Hoje, Rosely está entre as mulheres que ocupam um cargo de liderança no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pela Grant Thornton, as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança.  

“Quando fui convidada para dar aula no MOBRAL, meus pais entenderam que aquela oportunidade me traria de imediato um destino diferente de muitas das crianças onde morávamos: como aprendiz de professora e não colhedora de batatas”, conta, lembrando que a produção do legume já se consolidava na região.  “Eu era uma criança que só queria passar o que tinha aprendido. Meu único medo era voltar para a casa à noite, pois morava na colônia e era muito escuro”, detalha. “Para mim o que interessava, de verdade, era poder ganhar alguma coisa para auxiliar a família. Era meio salário mínimo, mas que fazia diferença para a gente em casa”, afirma.

Nos anos seguintes, enquanto concluía os estudos, passou a ser auxiliar de laboratório. Ao finalizar o que hoje chamamos de Ensino Médio ouviu da mãe: “Quero que você tenha uma vida diferente da que eu tive”. A família se esforçou para que a primogênita pudesse estudar em Londrina (PR) com o auxílio dos tios, a Ana e o Joaquim, que moravam em Cambé (PR).

“Eu fui. Passei no vestibular para Administração de Empresas e cuidava da casa e do Lúcio, filho da minha tia Ana até eu completar 18 anos”, conta. 

Tanto a tia quanto Rosely sabiam que apesar do apoio era preciso mais. Foi quando Rosely passou em um concurso da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e conseguiu concluir a faculdade. No entanto, outra responsabilidade logo bateu à porta. Era hora de voltar para a casa dos pais e permitir que a irmã saísse da Lapa para estudar, assim como ela. Foi assim que Rosely abriu mão de algo que depois nunca sentiria falta: a estabilidade de um cargo público.

Logo arrumou emprego em um frigorífico. “Naquela época não era tão comum uma mulher de 21 anos ter diploma superior na Lapa”, lembra. “Pai, acredita em mim que eu vou crescer, preciso começar de novo”, disse ao pai quando ele lamentou o fato de a filha ter retornado com diploma, mas sem conseguir ganhar mais que salário mínimo.

Em 1985, Rosely voltou para Cambé casada e na bagagem o propósito de fazer carreira na iniciativa privada.

“Eu queria me aventurar em uma empresa particular, pois me identifiquei com o senso de urgência, com a cobrança diferenciada que poderia me fazer crescer”, conta. “Resultado: lá fui eu trabalhar pelo salário mínimo de novo em um empreendimento de móveis”, completa.  Porém, uma oportunidade de concurso na Sercomtel e as inúmeras vezes em que ouviu que “empresas não contratavam mulher casada, pois em pouco tempo ela estaria grávida”, a fez mudar de ideia. Foi a única mulher aprovada. “Quando cheguei só tinham homens de terno e gravata. Se olharam entre si como se questionassem a minha participação. Foi um marco na minha carreira, dei o melhor de mim no processo seletivo e provei que o fato de ser mulher e casada não me tornava menos que ninguém.”

Tanto provou que alguns anos depois foi convidada a incorporar a equipe da telefonia celular de uma empresa do setor. A mudança a fez, sempre com o apoio do marido, fixar residência em Curitiba com os dois filhos. Na época contou com a ajuda do sogro, que havia ficado viúvo. Rosely ganhou experiência empresarial, especialmente na área de desenvolvimento e participou dos desenhos de vários processos e em especial de um plano de desenvolvimento de RH (Recursos Humanos). As viagens eram frequentes e cansativas, mas enriquecedoras. Nesta fase os filhos entraram na adolescência e o lado materno aflorou mais. Rosely sentiu que era o momento de estar mais próxima para orientar e dar atenção.

Nem chegou a lançar o currículo no mercado, pois recebeu um convite irrecusável para atuar em uma promissora empresa do setor de cosméticos e perfumes brasileira. Por lá ficou por dez anos.

“Sai de lá realmente em uma posição de privilegiada, pude atuar em muitas frentes e fiz de cada experiência uma alavanca de desenvolvimento”, lembra.

Foi quando agarrou o propósito de dividir a sua experiência com empresas menores que, no seu entendimento, poderiam precisar.

Rosely montou a própria consultoria e com uma nova meta: empresas da área de tecnologia, que não tinha vivenciado nas experiências anteriores.  Abriu o seu CNPJ e no mês seguinte estava atuando num projeto onde ficou por 6 meses.

“Criei minha consultoria e no mês seguinte fechei meu primeiro trabalho de consultoria independente. Fiquei por seis meses e sou muito grata pela oportunidade, pois este trabalho rendeu a recomendação para o próximo onde estou até hoje”, conta. “Eu sempre tive as pessoas que me ajudaram a encarar os desafios que eu me impus”.

“Eu consegui aportar aqui os conhecimentos que eu trouxe de fora. O propósito que eu tinha de participar do crescimento de uma empresa eu consegui entregar na NTT. Eu estou pronta para a próxima”, brinca. “O que me deixa mais feliz, e isso tenho orgulho, é que eu não tive que fazer uma opção entre casamentos e filhos e minha carreira. Não precisei optar. Tenho um casamento feliz e criamos dois filhos íntegros para o mundo”. “Às vezes eu chorava, às vezes meu marido chorava, não foi fácil, mas tudo contribuiu para o meu desenvolvimento e, quando a gente tem nobreza de intenção, somos abençoados. Eu sei que sou abençoada em todas as minhas escolhas”.

Ampliando a participação das mulheres

Na NTT DATA Business Solutions, Rosely está à frente de vários processos, entre eles o de seleção às cegas, que aumenta a participação de pessoas que poderiam ser excluidas por preconceitos, mesmo que inconscientes.

O método que virou tendência especialmente entre as empresas de TI é inovador e afasta um “possível olhar com preferencias que excluem pessoas com potencial de participação”. Dessa maneira, é considerado um processo mais imparcial, pois o foco é avaliar as competências e as experiências ao longo da carreira da pessoa, deixando de fora avaliações iniciais sobre gênero, idade, local de graduação, identidade sexual e até local de moradia. O mecanismo foi adotado na NTT DATA Business Solutions há aproximadamente seis meses e contribui para manutenção da participação acima de 30% de mulheres no quadro de pessoal. Além de mulheres na formação do quadro o objetivo é garantir a ampliação da diversidade em todas as suas faces.

Atualmente, a NTT DATA é um dos principais players globais de TI do mundo e foi considerada, em 2022, a 9ª melhor empresa para se trabalhar no Brasil pela consultoria Great Place to Work.

Alan Leocadio

Apaixonado por Games e tecnologia, está desde de Fevereiro de 2016 criando conteúdo em texto e em vídeo de forma simples e descomplicada.

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